A iniciativa do presidente Jair Bolsonaro em receber o líder opositor
Juan Guaidó um tratamento parecido ao dado a chefes de Estado que
realizam visitas oficiais ao País não agradou militares do Palácio do
Planalto. Na avaliação de setores da cúpula fardada do governo, o
encontro da tarde dessa quinta-feira deveria ter sido um discreto,
conforme planejado inicialmente, concentrando as atividades públicas no
Palácio do Itamaraty.
Para não criar uma saia-justa diplomática, a ideia era de que o
autodeclarado presidente interino do país vizinho, em sua passagem pela
sede administrativa da Presidência da República, entrasse e saísse pela
entrada privativa, não fizesse pronunciamentos e nem concedesse
entrevista à imprensa brasileira dentro do edifício.
A sua aparição pública ocorreria no ministério das Relações
Exteriores, com o chanceler Ernesto Araújo e sem a presença de
Bolsonaro. De última hora, porém, Bolsonaro mudou o plano da visita,
concentrando as atividades de Guaidó no Planalto, onde ele discursou ao
lado do colega brasileiro e falou com veículos de comunicação.
O militares do governo temem que essa recepção calorosa possa parecer
uma afronta direta ao atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Isso prejudicaria, por exemplo, a atuação do Itamaraty nos esforços para
esfriar a tensão entre os dois países.
O diagnóstico é de que, em tempos de conflito, o recomendável seria o
presidente manter silêncio e não aparecer publicamente ao lado do
venezuelano. Para um militar ouvido em “off”, Bolsonaro também poderia
ter feito menos elogios a Guaidó: em seu discurso, o presidente
brasileiro chamou o oposicionista venezuelano de “irmão”.
A fronteira entre Brasil e Venezuela está fechada desde 21 de
fevereiro. O Brasil reconheceu Guaidó como presidente da Venezuela em 23
de janeiro, quando ele se autoproclamou mandatário interino do país
vizinho. Apesar do gesto do líder opositor, Maduro continua controlando o
território e o exército venezuelanos.
Na quarta-feira, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo
Barros, disse que a audiência de Bolsonaro com Guaidó seria uma visita
de caráter pessoal. A parte oficial da recepção a Guaidó, segundo Rêgo
Barros, seria reservada ao ministério das Relações Exteriores. O que a
princípio seria uma visita pessoal, contudo, ganhou ao longo do dia
pompas de recepção de autoridades estrangeiras.
O venezuelano fez, ao lado do brasileiro, um pronunciamento no salão
leste do Palácio do Planalto, cerimônia normalmente reservada para
visitas oficiais de presidentes estrangeiros em pleno exercício do
cargo. O ministério das Relações Exteriores colocou à disposição do
autoproclamado presidente interno da Venezuela a estrutura que
normalmente oferece aos mandatários estrangeiros que realizam visitas
oficiais a Brasília.
Estrutura
Foram oferecidos a Guaidó dois veículos blindados da Polícia Federal,
além de seguranças da corporação. Ele também contou com uma suíte em
hotel de luxo na capital, onde se hospedou após chegar da Colômbia na
madrugada de quinta-feira. Os deslocamentos de Guaidó por Brasília foram
acompanhados por batedores oficiais.
Como a ideia era promover um encontro de caráter pessoal, a reunião
de Bolsonaro com Guaidó estava fora da agenda oficial do presidente da
República durante toda a manhã. Com a mudança no planejamento, porém, o
evento foi incorporado ao cronograma no meio da tarde.
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