Trecho do inquérito da PF (Polícia Federal) que investiga a obstrução
da investigação sobre a morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle
Franco (PSOL) cita o ex-deputado estadual Domingos Brazão (ex-MDB) entre
os suspeitos de ser um dos possíveis mandantes do crime.
Duas fontes ligadas ao caso confirmaram que essa é uma das linhas de
apuração que constam no inquérito da Delegacia de Homicídios da capital
fluminense. A PF investiga o trabalho da Polícia Civil após pedido da
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao surgirem suspeitas de
que haveria ações para desviar o foco das investigações.
Até o presente momento, pesava sobre Brazão apenas a suspeita de
plantar uma testemunha para incriminar o vereador Marcello Siciliano
(PHS) – adversário pela hegemonia eleitoral em áreas da Zona Oeste do
Rio dominadas por milícias.
Ex-parlamentar e conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas
do Estado do Rio de Janeiro), Brazão foi alvo de um mandado de busca e
apreensão cumprido por agentes da PF no dia 21 de fevereiro.
Em junho do ano passado, ele chegou a prestar depoimento à Polícia
Civil, onde negou qualquer relação com o caso. O advogado Ubiratan
Guedes reiterou que “seu cliente nega qualquer envolvimento nas mortes
de Marielle e Anderson [motorista da vereadora]”. De acordo com o
defensor, Brazão tem todo o interesse no esclarecimento do crime e
colocou à disposição da Justiça os seus sigilos bancários, fiscal e
telefônico.
Guedes afirma que o ex-deputado não conhece nem o delegado federal
nem o ex-PM que incriminou Siciliano. Procurada para comentar a suspeita
sobre Brazão, a Polícia Civil do Rio afirmou que “a investigação está
sob sigilo”.
Propinas
Durante sua trajetória política pelo MDB, Brazão teve problemas com a
Justiça. A situação se complicou em 29 de março de 2017, quando quatro
conselheiros do TCE-RJ e Brazão foram presos durante a Operação Quinto
do Ouro.
Eles são acusados de recebimento de propinas de empresários para não
fiscalizarem obras e uso de verbas públicas do governo do Rio de Janeiro
– o processo corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Solto
posteriormente, o grupo está afastado do tribunal desde então.
Dois anos antes, Brazão havia sido escolhido pela Alerj (Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro) para ocupar uma vaga no tribunal. Ao
tomar posse no cargo, por exigência da lei, ele deixou o MDB. A
indicação foi apadrinhada pelo então presidente da Casa, Jorge Picciani
(MDB). O único partido a se posicionar contra foi o PSOL, partido de
Marielle.
O então deputado teve também o nome citado na CPI das Milícias,
realizada em 2008, sob a presidência de Marcelo Freixo (PSOL-RJ), de
quem Marielle foi assessora.
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