segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Saída do ministro da Secretaria-Geral de Governo acirra disputa entre militares e PSL

A iminente queda do ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) — diante do agravamento da crise sobre as candidaturas laranjas, reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo — abriu nos bastidores do governo uma disputa sobre o futuro da pasta.
Almejam o comando do ministério, localizado no privilegiado quarto andar do Palácio do Planalto, militares e quadros do PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro defende que é necessário manter a representatividade das atuais duas pastas no governo.
O PSL tem dois representantes: Bebianno na Secretaria-Geral e no Turismo, Marcelo Alvaro Antonio. Ambos envolvidos na crise do esquema de candidaturas laranjas para desvio de verba pública eleitoral nas eleições passadas, período em que o PSL era presidido por Bebianno.
Há ainda a possibilidade de o presidente Bolsonaro extinguir a Secretaria-Geral, que ficou esvaziada depois que ele removeu de sua estrutura a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), que foram para a Secretaria de Governo.
Na frente militar, o favorito para assumir o lugar de Bebianno é o general Floriano Peixoto, hoje secretário-executivo do ministério. A ideia é que, confirmada a demissão do titular, prevista para esta segunda-feira (18), ele passe a ocupar interinamente a função.
Peixoto é general da reserva do Exército e foi comandante da missão no Haiti. Chegou a ser indicado por Bebianno para assumir a Secom durante o governo de transição, mas teve seus planos frustrados quando Bolsonaro retirou a secretaria da pasta. À época, o militar chegou a fazer um pente-fino nos contratos de publicidade do governo, promessa de campanha do presidente.
Além dele, um outro militar da reserva está na lista de possíveis ocupantes do cargo, o general Maynard Marques de Santa Rosa, que hoje ocupa a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) do ministério.
Aliados do vice-presidente, general Hamilton Mourão, defendem, por exemplo, que seja ele o novo chefe da Secretaria-Geral. Mourão já disse em entrevistas que gostaria de ter uma função administrativa no governo.
Entre essas possibilidades, a indicação do PSL é vista como a menos provável. Há um temor de que as suspeitas envolvendo repasses de verbas públicas a candidatos de Minas Gerais e Pernambuco sejam encontradas em outros Estados do País e a crise se espalhe ainda mais pelo governo.
De saída do governo, Bebianno afirmou no domingo (17) que é “hora de esfriar a cabeça”. “Daqui alguns dias [eu falarei]. Agora é hora de esfriar a cabeça”, afirmou a jornalistas na saída do hotel Golden Tulip, em Brasília. Neste domingo, ele deixou o quarto do hotel onde mora desde o início do governo por volta das 13h30min, para almoçar com a mulher, o filho e o empresário Paulo Marinho, um dos aliados da campanha eleitoral.
Como revelou a Folha em 4 de fevereiro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas, que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que tiveram votações pífias. Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.
Na semana seguinte, outra reportagem mostrou que que foi criada uma candidata laranja em Pernambuco para receber do partido R$ 400 mil de dinheiro público usado oficialmente em uma gráfica fantasma. Responsável por liberar o dinheiro, Bebianno nega envolvimento com as irregularidades.
A temperatura da crise subiu na quarta-feira (13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.

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