De acordo com as investigações da PF (Polícia Federal), os deputados estaduais que são alvos da operação para desbaratar um esquema de compra de votos iniciado no primeiro ano de gestão do governo de Sérgio Cabral (2007-2014), e mantido até hoje, recebiam propinas mensais que variavam entre R$ 20 mil e R$ 100 mil, além de cargos.
Os deputados votavam sistematicamente a favor dos interesses de Cabral e Jorge Picciani, ex-presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), incluindo o boicote à CPI dos Ônibus, a revogação das prisões decretadas pela operação “Cadeia Velha” e a aprovação das contas do Executivo fluminense.
Dentre os outros 12 alvos de mandados de prisão temporária, encontram-se o atual presidente do Detran, Leonardo Silva Jacob, e o secretário de Governo de Luiz Fernando Pezão, Affonso Monnerat, ambos envolvidos na chamada farra de cargos do Detran. Por determinação do tribunal, serão cumpridas ainda buscas e apreensões em mais de 40 endereços, incluindo gabinetes da própria Alerj.
Os 22 envolvidos são acusados de corrupção ativa e passiva e de formação de organização criminosa – os demais crimes, como lavagem de dinheiro, serão apurados no decorrer das investigações.
As principais provas colhidas pela força-tarefa da Procuradoria Regional da República da 2ª Região, em parceria com a Polícia Federal, para fundamentar a “Furna da Onça”, são a delação do ex-operador do esquema Cabral Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, homologada pelo ministro Dias Toffoli, somada às provas colhidas nas delações dos doleiros Vinícius Claret, o Juca Bala, e Cláudio Barbosa, o Tony. No sistema financeiro paralelo que a dupla operava, o ST, apareceram depósitos em nome de assessores dos parlamentares citados por Miranda.
As investigações também encontraram provas do favorecimento a deputados em planilha com o loteamento de cargos do Detran, apreendida no ano passado no gabinete de Edson Albertassi, e em lista de distribuição de cargos apreendida no gabinete de Paulo Melo.
A operação acontece um ano depois da Operação “Cadeia Velha”, que prendeu Picciani e outros dois deputados. Novas denúncias de corrupção envolvendo o Parlamento fluminense respaldam agora a Operação “Furna da Onça”, que expõe um esquema de compra de votos com dinheiro de propina e distribuição de cargos iniciado no primeiro governo de Sérgio Cabral, em 2007, e mantido até hoje, de acordo com as investigações.
Em decisão histórica, cinco desembargadores da 1ª Seção Especializada do TRF-2 assinam os 22 mandados de prisão – o único dos seis integrantes a não assinar estava em licença médica.
Prisões temporárias
Em sessão secreta no dia 25, os desembargadores aprovaram, por unanimidade, as prisões temporárias dos deputados André Corrêa (DEM), Coronel Jairo (Solidariedade), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC), Marcelo Simão (PP), Marcos Abrahão (Avante) e Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, o Neskau (PTB).
Também foram aprovadas as prisões preventivas dos deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, que já se encontram presos desde novembro do ano passado, por conta da operação anterior – Picciani vai continuar em prisão domiciliar, favorecido por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). O relator dos dois casos, desembargador Abel Gomes, nem sequer precisou ler o voto para ser acompanhado pelos demais colegas.
De acordo com o processo do MPF (Ministério Público Federal), o deputado Marcus Vinícius, o “Neskau”, no início da segunda administração Sérgio Cabral, começou a receber R$ 50 mil mensais. Os arranjos para as entregas, bem como a maior dos pagamentos, eram feitos por Sérgio de Castro Oliveira, o Serjão, assessor de Cabral, no escritório do deputado estadual , localizado na Barra, a uma pessoa de nome “Marcos”.
Os valores, no entanto, chegaram a ser entregues ao assessor “Marcos” em uma cafeteria no Paço Imperial, sempre no início do mês. Às vezes o dinheiro era entregue em embrulhos para não chamar a atenção. “Marcos” foi identificado como Marcus Wilson Von Seehausen. Ele foi chefe de gabinete de “Neskau” na Alerj. Depois, exerceu o mesmo cargo quando “Neskau” assumiu a Secretaria estadual de Envelhecimento Saudável.
O governador Luiz Fernando Pezão foi lacônico ao comentar a operação desta quinta-feira: “Vou esperar nós conhecermos o processo”, disse pelo WhatsApp. O Palácio Guanabara também emitiu nota, dizendo que “o governo desconhece os fatos e não teve acesso aos autor do processo”.
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