"Um homem comum, 28 anos, nascido na
Austrália em uma família de classe trabalhadora e de baixo salário".
Assim se definiu o atirador do massacre nas mesquitas em Christchurch,
Brenton Tarrant, em um manifesto de 73 páginas escrito em inglês
precário, recheado de links da Wikipedia e publicado em uma conta no
Twitter atribuída a ele.
No arquivo,
intitulado "The Great Replacement" (a grande substituição), Brenton
explica os motivos e as influências que o levaram a cometer os ataques
desta sexta (15), que deixaram 49 mortos na Nova Zelândia. Há inclusive
uma menção ao Brasil no documento.
Em
linhas gerais, o australiano se posiciona como um nacionalista branco,
contra a diversidade racial, apoiador de Trump e do Brexit -mas não da
Frente Nacional francesa- e inspirado, entre outros, pelo atirador da
Noruega Anders Breivik, cujos ataques em 2011 vitimaram 77 pessoas. Dois
jogos de videogame são referidos.
O
Brasil aparece em uma seção intitulada "Diversidade é Fraqueza", no qual
Terrant diz que os países "diversos" ao redor do mundo são locais de
"conflito social, político, religioso e ético".
"O
Brasil, com toda a sua diversidade racial, está completamente fraturado
como nação, onde as pessoas não se dão umas com as outras e se separam e
se segregam sempre que possível", escreve.
O
atirador faz questão de deixar claro que seus pais são de origem
escocesa, irlandesa e inglesa, e que "diariamente, nós [os europeus] nos
tornamos menos numerosos" em razão de taxas de natalidade decrescente.
A
imigração em massa "a convite do Estado" e as "altas taxas de
fertilidade dos imigrantes", segundo ele, terminariam por gerar uma
"completa substituição racial e cultural dos povos europeus".
Tarrant
justifica que houve um período de dois anos que "mudou dramaticamente"
sua visão e o incentivou a cometer os ataques. O período compreende o
ataque terrorista em Estocolmo, em abril de 2017, quando um imigrante do
Usbequistão, Rakhmat Akilov, matou cinco pessoas quando atropelou
pedestres com uma van em uma movimentada rua de compras da cidade.
Uma
das vítimas foi uma jovem de 11 anos, Ebba Akerlund, citada
nominalmente no manifesto. O ataque às mesquitas na Nova Zelândia seria
para vingar a perda da vida da garota, "morta nas mãos de invasores".
Tarrant
cita também as eleições presidenciais francesas de 2017, das quais saiu
vitorioso Emmanuel Macron que, embora não seja nomeado no documento, é
referido como "um ex-investidor sem crenças nacionais que não sejam a
busca do lucro".
Ele não se
identifica com nenhum grupo ou organização, mas afirma que doou (sem
especificar o quê) e que interagiu com grupos nacionalistas. Diz ainda
que começou a planejar os ataques de maneira geral dois anos antes, e
com três meses de antecedência especificamente em Christchurch.
Por
fim, cita dois jogos de videogame como grandes influenciadores. "Spyro:
Year of the Dragon me ensinou o etno-nacionalismo". No jogo de estética
infantil, lançado originalmente em 2000 para o console PlayStation, um
dragão roxo deve recolher diamantes e ovos em florestas.
Já Fortnite o "treinou para ser um assassino e para usar o fio dental nos cadáveres dos meus inimigos".
O
game, no qual um grupo de jogadores deve procurar armas e atirar uns
nos outros, foi lançado em 2017 e teve grande repercussão, atraindo mais
de 125 milhões de participantes em um ano. O último sobrevivente é o
ganhador.
Fonte: Folhapress
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