Emissários de Jair Bolsonaro pressionaram e o presidente Michel Temer decidiu paralisar as nomeações de quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal. O candidato do PSL quer ele próprio indicar, se eleito, os nomes para cargos-chave do governo que estão em aberto e seriam escolhidos pelo emedebista.
O presidente também recuou de nomeações para cargos de direção em agências reguladoras, após tratativas com representantes de Bolsonaro. O gesto do emedebista tem por objetivo obter compensações futuras, como a permanência de aliados em alguns cargos e a manutenção de programas da atual gestão.
Conforme fontes do Palácio do Planalto e da campanha de Bolsonaro ouvidos pela imprensa, o presidente pretendia rever os nomes selecionados pela Caixa e distribuir cargos de comando nas agências reguladoras para alguns de seus ministros. No entanto, Bolsonaro fez chegar até ele a sua insatisfação.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-MS), admite que o governo avaliou que agora – a dois meses do fim do mandato de Temer – o momento não é mais oportuno para fazer alterações em cargos permanentes.
“Ao fim de governo, é ideal que não tenha esse tipo de modificação. Não é hora de fazer mudança. Que o próximo presidente faça essas alterações”, declarou. Ele negou, contudo, que tenha conversado com aliados de Bolsonaro.
Regras
A decisão de Temer afeta as novas regras de gestão da Caixa, criadas com o objetivo de blindar o banco de aparelhamento político e esquemas de corrupção. Após os desvios apurados nas operações Sépsis, Cui Bono e Greenfield, a instituição aprovou novo estatuto que prevê a seleção de dirigentes por meio de recrutamento no mercado, seguindo critérios de competência profissional e sem a interferência de partidos.
Os ocupantes dos cargos têm de se enquadrar no perfil da Lei da Ficha Limpa. Pela nova regra, cabe ao Conselho de Administração da Caixa, e não ao presidente da República, decidir quem exercerá as vice-presidências do banco, com base nos resultados do concurso. Porém, a prerrogativa de nomeá-los continua sendo do presidente.
Neste mês, a Caixa enviou à Presidência da República a lista dos executivos selecionados para as vices de Habitação, Governo, Corporativa e de Fundos de Governo e Loterias. As três últimas estão sob o comando de interinos desde o início do ano, quando Temer teve de afastar os titulares devido a suspeitas de envolvimento em corrupção. A medida foi tomada após pedidos do MPF (Ministério Público Federal) e do BC (Banco Central).
Coube a Marun informar à Caixa que as nomeações não vão sair neste governo. O aviso foi dado diretamente ao ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a quem o banco está subordinado. Ele resiste especialmente à troca do vice-presidente interino de Habitação, Paulo Antunes de Siqueira, ao qual é ligado. O executivo foi superintendente da Caixa em Mato Grosso do Sul, base eleitoral do ministro. O chefe da Secretaria de Governo é antigo aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), atualmente preso, condenado por receber propinas na Caixa.
A decisão de suspender as nomeações frustrou integrantes da equipe econômica, que almejam, finalmente, pôr em prática as novas regras de governança da Caixa para dar uma resposta à opinião pública e blindá-lo de indicações políticas.
Teme-se que, após o oneroso processo de recrutamento, que envolveu a escolha de uma empresa caça-talentos, os executivos selecionados aceitem ofertas de concorrentes. Marun reconheceu que há pleitos de mudança, mas que os atuais vice-presidentes estão fazendo trabalhos satisfatórios e que substituições não são uma necessidade tão urgente para serem feitas agora.
Nas agências reguladoras, Temer indicou recentemente o novo presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e diretores da ANS (Agência Nacional de Saúde), da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e da nova agência de mineração, a ANM.
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